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​​ESPECIAL DIA DO LIVRO

DA MEMÓRIA AO FUTURO: A BIBLIOTECA PÚBLICA DE OURO PRETO NA ERA DIGITAL

Revista Mundaréu, 23 de abril de 2025

Por Cleusmar Fernandes

Diretor da Biblioteca Pública Municipal de Ouro Preto

Bibliote Pública de Ouro Preto

A Biblioteca Pública de Ouro Preto - Foto: Greiza Tavares

A Biblioteca Pública Municipal de Ouro Preto é mais que um espaço de leitura — é guardiã da memória, portal do conhecimento e ponto de encontro comunitário. Suas estantes repletas de histórias dialogam com o passado e anunciam o futuro, num momento em que é urgente valorizar o livro e o saber como ferramentas de transformação.

Com um acervo de cerca de 50 mil obras, a Biblioteca abriga registros que ajudam a entender o traço neoclássico dos casarões e a planta do Palácio D’Ouro — o mais antigo da cidade — revelando as marcas da influência lusitana. Em Ouro Preto, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, a arquitetura e a cultura fundem-se numa identidade diversa, e a Biblioteca é espelho e guardiã dessa essência.

Durante a pandemia, em 2021, quando a cidade foi silenciada pela onda roxa, surgiu o projeto Delivro — uma resposta criativa ao isolamento social. O delivery de livros buscava alimentar, com literatura, as famílias reclusas em casa, enfrentando desafios com o ensino remoto. A proposta simples e potente levou conhecimento até a porta dos leitores: bastava solicitar o título desejado por telefone ou e-mail, e o livro, higienizado e acondicionado, era entregue por motoboy com EPIs. O serviço, gratuito, segue ativo e tem ganhado ainda mais adesão.

A partir dali, a Biblioteca ampliou sua presença digital com ações em parceria com a Prefeitura, a Secretaria de Educação e a Casa do Professor. Lançamentos virtuais de livros, contação de histórias e rodas de conversa passaram a integrar a rotina digital da instituição, levando cultura e afeto a lares ouro-pretanos.

Nos anos seguintes, já no cenário pós-pandêmico e com o incentivo do governo municipal, a Biblioteca consolidou projetos como A Biblioteca vai à escola, Inverno Literário, Noite Mineira de Bibliotecas e Museus, Sarau: Música, Leitura e Poesia, Visita Guiada, Virada Cultural, Batalha da Pracinha e Natal Literário — conectando leitura, escola e comunidade.

Hoje, avança com ousadia no digital. Com o sistema Sophia, em fase de implantação nas escolas municipais, os alunos poderão consultar e solicitar obras do acervo da própria escola, ou da sede, de forma integrada. Um sistema de reservas permitirá que o próprio Delivro busque e entregue os títulos, aproximando o livro do leitor em qualquer ponto da cidade.

Essa modernização é fruto de um plano de governo que acredita na cultura como eixo transformador. Prova disso é a aprovação pioneira do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, alinhado ao Plano Nacional, que habilita Ouro Preto a participar de editais federais e estaduais.

Com o olhar no futuro, a equipe da Biblioteca planeja visitas técnicas, como a que será feita à Biblioteca Estadual Luiz de Bessa, em Belo Horizonte, e presença em eventos como a Bienal Mineira do Livro e o Encontro Sophia Biblioteca, em São Paulo. A busca é por referências e experiências que possam enriquecer o acervo e a gestão bibliotecária local.

Os dados mostram o avanço. Desde a adoção do sistema digital, o número de novos cadastros cresceu: 225 (2021), 217 (2022), 270 (2023) e já 252 (em 2024). Empréstimos digitais também cresceram: de 314 em 2022 para 1.095 em 2024, enquanto os manuais diminuíram, consolidando a nova era. Mais de 25 mil buscas foram realizadas no sistema apenas em 2024, com destaque para o período noturno.

Somam-se ainda mais de 2.500 empréstimos pelo Delivro e um total de 5.364 livros emprestados pelas duas modalidades. Os dados mostram uma biblioteca viva, que acompanha o ritmo dos leitores.

Mas o avanço não para. A Inteligência Artificial, por exemplo, é vista como aliada, não como ameaça. Ferramentas como chatbots e sistemas automatizados otimizam a rotina das bibliotecárias e ampliam o atendimento. A IA permite ainda classificação de conteúdo, realidade aumentada, acessibilidade e novos formatos de interação com o acervo.

Há desafios, claro. Privacidade e uso ético dos dados são pautas constantes. Mas a Biblioteca está atenta, preparada, viva. Afinal, como disse Angelo Oswaldo ao receber Rui Mourão na Academia Mineira de Letras, “tocar o papel é um gesto sensorial que nos reconduz à nossa humanidade”.

Neste 23 de abril, Dia Mundial do Livro, a Biblioteca de Ouro Preto celebra sua trajetória e projeta o futuro. O livro, longe de ser um objeto obsoleto, continua a ser o mais potente dos portais. E ele te espera — de páginas abertas.

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Cleusmar Fernandes é graduado em Gestão Pública pela Universidade de Brasília, psicólogo clínico pela Universidade Paulista - UNIP, especializado em Neuropsicologia

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