O mestre vitralista Fernando Felicíssimo, em parceria com a Mundaréu Produções, planeja realizar oficinas deste ofício milenar em Ouro Preto e região

A tradição dos vitrais encontrou em Minas Gerais um de seus principais representantes no Brasil: o vitralista Fernando Felicíssimo Mascarenhas. Ao longo de 49 anos, ele construiu um legado que une pesquisa, técnica e transmissão de saberes, tornando-se referência nacional em uma arte bastante presente em diferentes culturas e períodos da história da arte, e alcançou seu auge na Idade Média, nas catedrais góticas.

Em 2022, Fernando instalou seu ateliê em Santa Cruz, no norte do Espírito Santo, onde continua produzindo. Motivado a compartilhar o conhecimento acumulado em quase cinco décadas de trabalho, passou a ministrar palestras e oficinas sobre vitrais.

A proposta de formação, no entanto, começou em 1978, a convite do Museu de Arte Contemporânea de Campinas. Desde então, cerca de 400 pessoas já participaram do curso, que mais recentemente chegou ao Centro de Referência da Juventude, em Aracruz, com apoio da Lei Paulo Gustavo.

Em visita a Ouro Preto, após coordenar a restauração de painéis de seu antigo professor, Gianfranco Cerri, para a rede hoteleira portuguesa Vila Galé em Cachoeira do Campo, Fernando apresentou a proposta de trazer suas oficinas para a região. A Mundaréu Comunicação Produção e Arte acolheu a iniciativa e trabalha para viabilizar essa rara oportunidade de acesso a um ofício milenar para jovens mineiros, articulando novos parceiros.

O curso terá carga horária de 30 horas, divididas em aulas de 5 horas, e será realizado em escolas e espaços culturais. Os alunos acompanharão todas as etapas de criação de um vitral em resina de poliéster, do projeto em papel à execução em tamanho real. Ao final, cada participante terá concluído sua própria obra, vivenciando a continuidade de uma tradição que une história e experimentação.

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Fernando Felicíssimo, um breve histórico do mestre

Em 1976, Fernando começou sua vida artística como aprendiz de Gianfranco Cavedoni Cerri, italiano natural de Pisa e professor da Escola de Belas Artes da UFMG. No ateliê particular do mestre, participou de projetos de escultura em bronze, metal, cerâmica, serigrafia, mosaico e vitrais.

Dois anos depois, em 1978, inaugurou seu primeiro ateliê de vitrais em Campinas. Nesse período, firmou parceria com o Departamento de Física da Unicamp para desenvolver a técnica do vitral em resina de poliéster. A pesquisa, realizada entre 1978 e 1980, resultou em pigmentos mais resistentes e duradouros, estabelecendo um raro diálogo entre ciência e arte.

Primeiros grandes trabalhos

Fernando permaneceu em Campinas até 1983. De volta a Minas Gerais, abriu ateliê em Belo Horizonte. Em 1985, executou 40 vitrais para a Igreja Matriz de Conceição Aparecida, no Sul de Minas, em um dos primeiros grandes trabalhos de sua carreira.

A experiência em Maceió

Em 1988, mudou-se para Maceió, onde a intensa luminosidade do Nordeste marcou sua produção. Seus vitrais passaram a incorporar elementos das faunas e floras alagoanas, em diálogo direto com o ambiente local.

A fase de Brasília

Em 1999, estabeleceu-se em Brasília. Nesse ano, participou da reforma e manutenção do conjunto de vitrais do Santuário Dom Bosco. Logo depois, atuou na restauração de parte dos vitrais do “Átrio dos Vitrais”, no prédio da Caixa Econômica Federal.

Na capital federal também integrou a equipe do Galpão das Artes 508/Sul, espaço de referência cultural que oferecia cursos em diversas áreas, entre eles a formação de vitralistas.