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Com escuta, exposição e oficinas, Ouro Preto celebra o bordado como patrimônio
Revista Mudaréu, 19 de maio de 2025

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Foto: Patrick Araújo (PMOP)

Na semana do Dia Municipal do Bordado, comemorado em 23 de maio, a Prefeitura de Ouro Preto promove uma programação especial voltada à valorização e preservação do ofício de bordadeiras e rendeiras. Reconhecido como patrimônio imaterial desde 2019, o saber ancestral do bordado representa não apenas uma técnica artesanal, mas uma expressão viva da identidade ouro-pretana, transmitida de geração em geração.

A programação começa no dia 22 de maio com o Fórum de Escuta, promovido pela Diretoria de Pesquisa e Difusão do Patrimônio Cultural (PROPAT), da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. O encontro será realizado às 15h na Casa de Gonzaga (Rua Cláudio Manoel, 61, Centro), reunindo artesãs para debater ações de salvaguarda do ofício, além de lançar o novo cadastramento para mapear os agentes envolvidos na atividade. A última atualização de dados havia sido feita entre 2017 e 2019, e o objetivo agora é construir um panorama mais atual da prática no município.

O formulário de cadastramento poderá ser preenchido de forma online ou presencial. Neste segundo caso, será necessário procurar a sede do PROPAT para retirar a ficha, preenchê-la e anexar a documentação exigida. Em um segundo momento, será feito o agendamento para análise de portfólios.

Segundo Pollyanna Precioso Neves, historiadora da equipe técnica de salvaguarda, esse tipo de escuta ativa é fundamental para orientar decisões coletivas e aproximar o poder público dos detentores do saber. “A substância do patrimônio imaterial são as pessoas. Nós, da equipe técnica, podemos ter um olhar diferente do dos próprios detentores do bem. Logo, momentos como esse buscam compreender aquele grupo, aquele bem, suas sugestões, reclamações e promover tomadas de decisões coletivas. Só a partir de fóruns como esse é que é possível traçar ações mais próximas das expectativas dos envolvidos”, explica.

Pollyanna também destaca a singularidade de algumas técnicas tradicionais que resistem ao tempo em Ouro Preto, como a renda marafunda, encontrada em poucos lugares do Brasil. “Reconhecer e valorizar esse saber reforça a centralidade do povo ouro-pretano como protagonista da representatividade mundial que a cidade tem”, afirma.

No dia 23 de maio, às 18h, também na Casa de Gonzaga, a celebração segue com um evento que reúne roda de conversa e exposição dos trabalhos desenvolvidos pelas alunas das Casas de Cultura. A mostra permite ao público conhecer de perto os diferentes estilos e referências que permeiam a produção local.

Encerrando a programação, de 26 a 30 de maio, a Casa de Gonzaga recebe uma série de oficinas de bordado, por meio do projeto Criar e Bordar. As atividades são voltadas ao compartilhamento de técnicas e à formação de novos praticantes, garantindo a continuidade do ofício no tempo. Os participantes receberão os materiais necessários para produção das peças — linha, agulha, tecido e apostila — e poderão experimentar diferentes abordagens do bordado:

  • 26/05 – Bordado Livre (13h30 às 17h)

  • 27/05 – Bordado na Chita (13h30 às 17h)

  • 28/05 – Bordado em Papel (13h30 às 17h)

  • 29/05 – Bordado com Feltro (13h30 às 17h)

  • 30/05 – Bordado em Ponto Cruz (13h30 às 17h)

À frente das oficinas está Vilma do Nascimento, artesã, pedagoga e coordenadora do Serviço de Atendimento ao Artesão. Com uma trajetória marcada pela arte do bordado, ela fala sobre o simbolismo pessoal e coletivo dessa prática: “O bordado representa para mim um resgate de história desde a minha infância, com a minha mãe. Eu a via transformar linha e agulha em produto e me deixava encantada”, conta. “Hoje, vejo como algo muito forte, como representação de cultura. É algo que transcende o tempo, que transforma sentimentos, ambientes e realidades. Uma terapia, uma paixão, uma fuga e um norte.”

Vilma também destaca os benefícios emocionais da prática artesanal. “O relaxamento, a meditação, a criação de algo que gera orgulho, o alívio da tensão, a conexão com pessoas... Tudo isso aguça o interesse por esses saberes”, afirma.

Ao celebrar o Dia Municipal do Bordado, Ouro Preto reafirma seu compromisso com a memória viva das comunidades que moldam sua identidade. Ao reunir tradição e escuta, formação e protagonismo, a cidade lança novos fios para tecer o futuro de um dos ofícios mais simbólicos de seu patrimônio imaterial.

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