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Porteirinha, MG: uma nova esperança para a Igreja de São José do Gorutuba
Revista Mundaréu, 17 de junho de 2025

Foto: Rede Social da Igreja de São Jose do Gorutuba

Na poeira fina do tempo, a Igreja de Nossa Senhora da Soledade de São José do Gorutuba, em Porteirinha, MG, resiste. Construída entre o final do século XVIII e o início do XIX, ela é guardiã das memórias de um povoado que já foi rota de tropeiros, romeiros e vaqueiros do sertão.

O vilarejo, que ganhou status de arraial em 1832, foi um dos corações que pulsavam no norte de Minas e, dos vestígios do seu antigo brilho, a igreja, solitária, com paredes e telhado por um fio, pede socorro há tempos.

 

Mas nesta semana, uma boa nova finalmente chegou: o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, veio a público anunciar o início da tão esperada restauração do templo. Os recursos vêm do programa Restaura Minas, por meio do Fundo Estadual de Cultura. A obra será realizada em parceria com a Prefeitura de Porteirinha, com coordenação do IEPHA e apoio da Secretaria Municipal de Cultura.

Durante visita à região, Leônidas declarou: “A Igreja de São José do Gorutuba, no norte de Minas, encontra-se em estado precário, com a estrutura das paredes comprometida e o telhado com falhas. Mas hoje, com recursos do Fundo Estadual de Cultura, iniciamos a consolidação da estrutura — ou seja, o reforço das paredes, a troca do telhado, a recuperação da fiação elétrica — em parceria com a Prefeitura de Porteirinha. É um momento importante para a comunidade e para toda a região, pois essa igreja marca, no norte de Minas, os primeiros sinais da ocupação do território. Os fluxos migratórios que vêm da Bahia são os primeiros registros que temos dessa ocupação em Minas Gerais. A Igreja de Nossa Senhora da Soledade de São José do Gorutuba é testemunha desse momento, e preservar é dever do Estado.”

O gesto, mais que institucional, é simbólico. Trata-se de reconhecer que a cultura do interior é feita da fé enraizada nas encruzilhadas do sertão, e que restaurar a Igreja de São José do Gorutuba é devolver a um povo sua história comum, é restaurar a identidade e a dignidade da nossa gente.

Porteirinha e a história do Padre e a Bala de Ouro

Como muitas localidades do norte de Minas, Porteirinha nasceu de um ponto de pouso à beira da estrada, onde viajantes vindos da Bahia e do nordeste brasileiro paravam em busca de abrigo. A clareira cercada de árvores lembrava uma porteira, daí o nome que pegou, e os primeiros moradores foram tropeiros e garimpeiros que chegaram no século XVIII, atraídos pelo ouro ou expulsos pela seca.

 

Reza uma crônica regional que o padre José Vitório de Souza, vigário local, foi morto com uma “bala de ouro”, disparada por jagunços em tempos de conflito e disputa por poder. A história, passada de boca em boca, atravessou gerações, ganhou letra no livro Gorutuba: o Padre e a Bala de Ouro”, do historiador Simeão Ribeiro Pires, e a bala, hoje, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Nessas paragens mineiras, onde o ouro sempre andou misturado com fé e com medo, não espanta que a morte de um padre tenha virado lenda. Provavelmente, como em tantas narrativas da nossa história colonial, a figura reverenciada do sacerdote concentrava tanto poder que sua execução só poderia ser explicada por um símbolo à altura: com uma bala de ouro. O ouro que redime ou condena, abençoa e mata.

 

Em Minas, muitos mitos como este espreitam pelas frestas das gavetas onde, no passado (minha mãe dizia), nossos ancestrais guardavam as armas e o queijo.

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